Em caso de doença mental, o autor do duplo atentado pode ser encaminhado para internamento psiquiátrico
Narcisista, egocêntrico, paranóide psicótico e esquizofrénico. As tentativas de definir o perfil psicológico de Anders Behring Breivik, autor do duplo atentado na Noruega, repetem-se na imprensa internacional, depois de vários psicólogos e psiquiatras terem mostrado interesse no manifesto de 1500 páginas publicado pelo norueguês de 32 anos duas horas antes de detonar uma bomba no centro de Oslo e matar 69 pessoas a tiro na ilha de Utoya. Ontem, depois de um segundo interrogatório, a polícia anunciou que foram nomeados dois psiquiatras para fazer a avaliação mental de Breivik. Vão trabalhar de forma independente, para que haja dois pareceres. O diagnóstico só será conhecido a 1 de Novembro.
Se a defesa puder alegar insanidade, a pena máxima, de 30 anos - no caso de uma acusação de crimes contra a humanidade -, poderá ser transformada num internamento psiquiátrico de dez anos, revisto a cada cinco, disse uma especialista brasileira a viver na Noruega.
Ontem, conhecido o prazo, os pareceres voltaram a repetir-se na imprensa norueguesa. Segundo o diário "Adresseavisen", um diagnóstico de psicose, inconsciência ou atraso mental poderá impossibilitar uma sentença de prisão.
Michael Setsaas, especialista em perícias psiquiátricas, dizia a este jornal que a primeira hipótese parece a única em cima da mesa. Há, contudo, a questão das drogas: a polícia já confirmou que Breivik estaria sob o efeito de um cocktail estimulante à base de cafeína, aspirina e efedrina quando levou a cabo o duplo atentado. Setsaas adiantava ainda que a perícia vai incluir uma análise completa à vida do terrorista e às suas relações sociais. A avaliação determina ainda o risco de reincidência e o estado mental do suspeito durante os interrogatórios policiais.
Ian Stephen, especialista em psicologia forense citado pela BBC, dizia no início da semana que o manifesto de Breivik era um dos documentos mais assustadores que alguma vez tinha lido. Este livro de 1500 páginas, onde o norueguês apresenta o seu plano de golpe de Estado contra os regimes multiculturais da Europa, deverá passar por um escrutínio meticuloso.
Além da decisão sobre a perícia psiquiátrica, hipótese que já tinha sido antecipada pelo advogado de defesa Geir Lippestad ao declarar que "todo o caso sugere que Breivik é louco", a polícia acabou ontem por não fornecer mais informações sobre uma das principais dúvidas nas investigações preliminares ao caso. No interrogatório de segunda-feira, Breivik disse existirem mais duas células terroristas associadas aos seus planos. De acordo com um comunicado citado pela Reuters, a polícia norueguesa reforçou ontem a convicção de que o terrorista actuou sozinho. "O mais provável é que tenha planeado e executado as acções sem qualquer apoio", disse, acrescentando que os atentados são únicos a nível nacional e internacional. "Estes atentados não aumentam o nível de ameaça dos movimentos conhecidos na extrema-direita ou extrema-esquerda."
Funeral das vítimas do duplo atentado
A geração 22 de Julho Ontem realizaram-se os primeiros funerais e a polícia terminou a divulgação dos nomes e dos rostos das 77 vítimas - um dos feridos de Utoya acabaria por morrer no hospital, aumentando o número de mortos. Numa cerimónia durante a amanhã, o primeiro-ministro, Jens Stoltenberg, que irá pessoalmente a alguns dos funerais, disse que a "geração de 22 Julho" não será esquecida. "Em Julho do próximo ano vamos estar em Utoya." Stoltenberg anunciou que vai ser construído um monumento em homenagem às vítimas e que o duplo atentado despertou a democracia e a participação cívica dos noruegueses. Segundo uma sondagem divulgada ontem, a popularidade do Partido Trabalhista norueguês subiu 10% na última semana. Em dia de bandeira a meia haste e de um minuto de silêncio replicado nas redes sociais, o "Daily Telegraph" escreveu uma das frases mais impressionantes do dia: "É horrível pensar que alguns destes jovens vão passar a próxima semana a ir aos funerais de dezenas de amigos."
Contribuição: Informação online
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