segunda-feira, 19 de abril de 2010
Crônica do Amor
Por Arnaldo Jabor
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
ÔNIBUS 174
Sinopse:
Uma investigação cuidadosa, baseada em imagens de arquivo, entrevistas e documentos oficiais, sobre o seqüestro de um ônibus em plena zona sul do Rio de Janeiro. O incidente, que aconteceu em 12 de junho de 2000, foi filmado e transmitido ao vivo por quatro horas, paralisando o país. No filme a história do seqüestro é contada paralelamente à história de vida do seqüestrador, intercalando imagens da ocorrência policial feitas pela televisão. É revelado como um típico menino de rua carioca transforma-se em bandido e as duas narrativas dialogam, formando um discurso que transcende a ambas e mostrando ao espectador porque o Brasil é um país é tão violento.
Esta analise é realizada a partir das aulas de Psicologia Social, ministrada pela prof. Flávia Carvalhaes, quando foi exibido o documentários ÔNIBUS 174...
A tentativa de estabelecer uma ponte entre os conceitos de Identidade, representações sociais, Ideologia dentro da Psicologia Social, com o episódio do Ônibus 174, nos deparamos com a complexidade que os diversos fatores que atravessam cada um dos envolvidos, se entrelaçam, produzindo seqüencia de acontecimentos inesperados, indesejados, incalculáveis... Porém previsíveis e evitáveis.
Ao analisar o comportamento do Sandro, pode-se identificar que a identidade é um processo subjetivo mutável, que a partir dos diversos comportamentos instáveis variam da empatia á violência. A identidade reafirma-se a partir dos contextos das relações sociais, onde é atravessada por questões ideológicas e linguagens e representações sociais.
Quanto as representações sociais, é observável que a sociedade tem uma imagem pré-produzida do bandido; de forma preconceituosa a sociedade estabelece critérios de certos e errados, e todos quantos não estão de acordo com essa faixa de normalidade são taxados de bandidos, através do seu estereótipo. De forma chocante o filme expressa a ira e a justiça própria das pessoas, todos os envolvidos no documentário desejavam fazer justiça com as próprias mãos; o interessante é que a sociedade não vê o Sandro como um produto da sociedade, criado por nós mesmos, se o Sandro era o protagonista culpado do enredo, nós sociedade também somos culpados quando produzimos desigualdade e negamos direitos e dignidades a Sandro’s da vida.
O filme trabalha com sistemas ideológicos, essa observação é possível através das construções sociais. De forma inegociável a sociedade estabelece sistemas de homogeneidade, Sandro não se enquadrava nesse sistema ideológico, pois desde criança sofria na pele a perda dessas ideologias; a mãe é degolada na sua frente quando tinha apenas seis anos de idade, na seqüência vai morar coma tia, porém foge para rua, onde fica invisível até aos 22 anos de idade, essa invisibilidade foge das compreensões ideológicas.
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