Por Victor Costa
O Café Filosófico CPFL do dia 6 de agosto recebeu um dos mais importantes comunicadores do país, o jornalista Marcelo Tas. Nas dependências da cpfl cultura, mais de 800 pessoas assistiram à divertida palestra Nova Renascença ou fim da picada?, que deu iníco ao módulo Mundo virtual: relações humanas, demasiado humanas, que conta com sua curadoria. E mais gente acompanhou essa participação, por meio da transmissão online no cpflcultura.com.br. Mais de 1500 pessoas passaram pelo site e participaram pelo chat enviando perguntas e debatendo as ideias.
Tas apresentou uma espécie de panorama da genealogia do analógico ao digital. Para tanto, estabeleceu um percurso da Renascença à atualidade. Da Imprensa de Gutenberg, que, ao libertar a informação, foi o YouTube do Renascimento, passando em 1938 pela invenção do Código de Modulação de Pulso (que possibilitou representar digitalmente um sinal analógico), culminando, em 1945, no conceito de satélite geoestacionário, que permitiu o desenvolvimento das telecomunicações, aos nossos dias de frenéticos tuites e retuites. Resultado deste percurso: os principais fenômenos da cultura digital são a diversidade do compartilhamento da informação e do conhecimento, e, principalmente, a variedade na publicação dos conteúdos. Mas, eis o problema de toda a “geleca eletrônica”: como entender o que está acontecendo conosco, “seres digitais”? Vivemos uma nova Renascença ou o fim da picada?
Viver em rede não é de hoje
Tas lembrou que a Renascença (período dos séculos XIV ao XVII no Ocidente) só recebeu este nome duzentos anos depois de seu “início”. “Esta é a dificuldade que temos hoje, dificuldade de definir o que estamos passando”, afirmou. Todas as épocas que passam por transformações macroestruturais têm a dificuldade de definição de si mesma. Mas este não é o único paralelo entre os dias atuais com o Renascimento. O período foi marcado justamente por macro transformações tais como as que vivemos atualmente, principalmente mudanças nas comunicações. Tas citou o cenário de Florença, que naqueles séculos foi epicentro do movimento de difusão de conteúdos, que ao colocar o conhecimento em rede, descentralizou-o. Ora, o que caracterizada a web é exatamente a descentralização do conhecimento, em rede. O mundo virtual continua a ser uma rede de pessoas, tal como nas velhas relações de comunicação. Nas palavras de Tas: “viver em rede não é de hoje!”. Para ilustra, Tas mostrou algumas imagens, com um papiro, o primeiro site, segundo ele; também um papiro egípcio, cujo layout parece precursor do ipod; e lembrou-se da Biblioteca de Alexandria, o Google da Antiguidade. O palestrante considerou passo primordial na “libertação” da informação a criação da Imprensa, por Johann Gutenberg, em 1448. “Foi o YouTube do Renascimento”, brincou.
Geleca eletrônica
No entanto, a característica fundamental de nossos dias é a diversidade das mídias de replicação de conteúdo. A diversidade de ferramentas das quais dispomos hoje para manter a rede é enorme, por isto a relação absurdamente veloz entre os conteúdos. Mas o que não se pode perder de vista é que, embora todo o suporte tecnológico, o mundo virtual é uma rede de pessoas. Por isto, Tas explica, o título do módulo deste Café Filosófico CPFL de agosto é Mundo virtual: relações humanas, demasiado humanas.
Tas falou então sobre o tema da educação. Desde as primeiras décadas do século XX até pouco tempo atrás, o professor era o provedor de informação. Abarrotava lousas de conteúdo, o aluno o replicava em seu caderno e o absorvia. Depois o professor testava quão bem o aluno compreendeu tal conteúdo. “E hoje, quantos provedores há para um aluno?”, questionou Tas. Mostrou então a imagem do quarto de um típico adolescente contemporâneo: com TV, rádio, livros, revistas, computador, celular, etc. A imagem valeu por mil respostas. Está prestes a ruir o papel do professor no mundo contemporâneo, eletrônico? Para Tas não. Segundo ele este é o momento do professor, que deve ser o organizador, o guia, deste caos de informações. “É ele [o professor] que pode fatiar as informações que nos são atiradas” e conferir-lhes razão, enfatizou Tas. É a hora do professor!
Momento nerd da palestra
Da transição do analógico ao digital, Tas citou dois cientistas: Alec Reeves e Arthur C. Clarke, no que irreverentemente chamou de “momento nerd da palestra”. Em 1938, o cientista Alec Reeves criou uma forma de ler digitalmente os sinais analógicos, este foi seu grande mérito. Assim, criou uma linguagem chamada Código de Modulação de Pulso, que usa a lógica do famoso código binário (0-1). Tas brincou que Reeves é o pai da pirataria, pois o Código nos possibilita, hoje, entre outras coisas, fazer cópias de mídias de DVDs.
Já Arthur Clarke além de cientista foi exímio escritor. Foi um conto seu que inspirou o filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Mas a contribuição de maior importância de Clarke foi a criação do conceito de satélite geostacionário. Em 1945, Clarke apresentou o conceito em artigo publicado em uma revista já chamada Wireless World, propôs aí uma cobertura “extra terrestrial” para a radiodifusão mundial. Suas ideias foram imprescindíveis para o desenvolvimento das telecomunicações, e inspiraram a noção de rede em “tempo real”.
Tas encerrou a palestra ao afirmar que a grande tarefa contemporânea continua a mesma do passado: processar informação. “E a perguntinha ainda é a mesma: quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Só que agora podemos pensar nisto de modo mais democrático que antes”. E o desafio de viver em rede é não perder o foco, a pontaria, na utilização das ferramentas digitais. “Ferramentas são utilizadas por pessoas”, não o contrário
Contribuição: CPFL Cultura
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